terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Até breve, Comandante!




Éramos ex-soldados tentando nos reunir com uma certa frequência, tentando -quase sem sucesso algum- evitar os anos de afastamento. Tentávamos manter as histórias, a tradição, o convívio. Manter os laços que a caserna criou mas estava difícil.
Por vezes sonhávamos em juntar 20 ex-Cachorrões e "mandarmos fazer uma camisa" do encontro mas... nem 5 interessados conseguíamos.
As coisas iam de mal a pior.
Mas o vento, meu amigo, muda. A vida muda e tudo mudou.
Certa noite, trabalhando no Jantar das Armas noGrêmio Geraldo Santana (evento que reúne comandantes de diversas unidades militares, comandos, autoridades civis e militares) estava eu responsável por recepcionar as autoridades militares que lá chegavam.
Estava curioso pra conhecer o então novo comandante da 1ª Companhia de Guardas. Olhar nos olhos e ver conhecer o cara que iria guiar os Cachorrões por dois quem sabe três anos.
O nome estava na relação e desde o primeiro instante, semanas atrás, quando tomei conhecimento do nomeEdson Aita fiquei imaginando como seria o momento do olho no olho em que poderia conhecer o comandante.
O diretor de marketing e comunicação social do clube estava ao meu lado quando abriu a porta do elevador e, chegando no hall de entrada do salão panorâmico, se aproximou um casal e o diretor disse:
-"Bem vindo Major!" ; logo após cumprimentou a esposa do comandante e, em seguida virou-se pra mim e disse: -"Este é o comandante da 1ª Companhia de Guardas!"
De imediato quebrei o protocolo e estendi a mão dizendo -"Major, é uma honra conhecer o senhor e apertar a mão do novo comandante do quartel que eu servi por sete anos com muito orgulho!"
Certamente ele deve ter pensado algo como -"É cada louco que me aparece... kkk"
Após isso tive a oportunidade de conversar por poucos minutos e poucas vezes com o Major de Infantaria Edson Aita. O que foi suficiente para ver o grande ser humano, a grande pessoa que é!
Um cara simples, correto, justo, diferenciado, prático, inteligente e com grandes diferenciais que o tornam uma pessoa ímpar e um grande comandante.
Não foi por acaso que o Comandante da 3ª Região Militar Excelentíssimo Senhor General de Divisão Fernando Vasconcellos Pereira leu pessoalmente o elogio que parecia não ter fim, detalhado e com tanta riqueza que certamente, a cada frase lida pelo general passava um filme na cabeça e no peito do Major Aita.
O Major passou o comando da 1ª Companhia de Guardas e irá para o Rio de Janeiro seguir nos estudos da carreira militar (que ao contrário dos políticos que comandam nosso país precisam estar sempre estudando, se aprimorando e treinando tanto na teoria como na prática tudo que lhes é ensinado).
Grande ser humano!
Grande militar!
Baita amigo e pessoa sensacional!
Só tenho a lhe desejar sucesso, Major e logo espero ver o senhor para poder lhe dar um abraço e conversarmos bastante num encontro dos Eternos Cachorroes já que o senhor foi o grande idealizador e quem "comprou a briga" para reunir TODOS os militares da ativa e da reserva num encontro que todos sentiram-se em casa novamente.
O senhor reuniu mais que militares da ativa, oficiais, sargentos, cabos e soldados. O senhor reuniu generais, coronéis, recrutas e todos foram tratados com respeito e nenhum se sentiu ofendido por ser assim.
A caserna ensina a hierarquia e o respeito, a educação vem de casa. Mas ter a hombridade, a coragem e iniciativa de reunir tantas pessoas em momentos inesquecíveis... isso, Major, não tem preço e tenha certeza, não importe quanto tempo passe, NUNCA esqueceremos do que o senhor fez por todos os Cachorrões.
Esposas, filhos, namoradas, Cachorrões.
Todos nós que ostentamos esse braçal e alamar um dia somos gratos ao senhor por realizar -juntamente de toda sua equipe- estes eventos tão bem organizados.
Não se via no rosto de um só militar da ativa aquela expressão de quem está louco pra ir pra casa... pelo contrário, os sorrisos e a disposição em ser útil, em mostrar o quartel, em serem prestativos, enfim... todos foram perfeitos em todos os momentos, seja no Piquete lá no Acampamento Farroupilha, seja nos encontros dos Eternos Cachorrões.

Nunca poderei retribuir à altura a oportunidade que o senhor me presenteou ao ter a honra de conhecer e aprender um pouco sobre a vida com o General Marsillac. Graças ao senhor, Major, tive a grata surpresa e imensa honra de visitar a família do General e conhecer mais da história deste grande ser humano, militar e pai dos Cachorrões.

Por fim, espero que no próximo encontro dos Cachorrões o senhor esteja presente para podermos mostrar aos nossos filhos, esposas, namoradas o quartel que servimos, mostrarmos nossa tradição, mostrarmos os ex-colegas e mostrarmos também o homem que tornou tudo isso possível: o senhor.

Um forte abraço, muito sucesso e que Deus o abençoe juntamente com sua família!
É uma honra ter conhecido o senhor e poder ter lhe dado um abraço na passagem de comando!
Lembre-se, Major: "Quem é de Guarda, sempre será de Guarda!"

G U A R D A ! ! !
B R A S I L ! ! !
 — com Edson Aita.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

A Família Marsillac



E quando estamos quase sem gás na vida, quando parece que estamos 'vivendo mais ou menos' ou apenas sobrevivendo ao invés de viver plenamente, eis que algo bom acontece.
Sexta-feira, dia corrido, eventos e mais eventos pra acontecer e o departamento cheio de missões.
Correria!
O telefone toca e uma voz grave do outro lado da linha pergunta pelo "Gerson". Estranho pois, aqui no serviço me conhecem pro Pinheiro mas, certamente era a mesma pessoa. Este que vos escreve.
Ao telefone estava o Coronel Marsillac, filho do exmo. sr. General Marsillac, ex-comandante da 1ª Companhia de Guardas e eterno Cachorrão.
De modo algum podia esperar ouvir o que, em segundos, ouviria.
Um convite do Coronel para almoçar na residência onde residia o General Marsillac, pleno almoço familiar de domingo!
Enquanto ouvia os detalhes do convite me perguntava -ao mesmo tempo- por que convidar um simples soldado para visitar a residência do General, seu lar e local onde sua família se reúne aos domingos.
Compareci ao almoço com a Mari Haberland, minha namorada parceira, companheira e sou muito grato pela companhia, por poder compartilhar este momento ao lado dela.
Eis que mais de dez pessoas se encontravam no apartamento do General e em cada um que com ele conviveu eu notava a simplicidade, o modo simples de ser, de agir, a ausência de cerimônia e mais, não poderia ser melhor recepcionado pois a Madonna (linda labradora) já veio -ainda no corredor- me dar as boas vindas!
Graças a simplicidade de uma família inteira, em minutos, já me sentia bem à vontade em um lar cheio de lembranças do general e me senti como se representasse todos os subordinados que ele já teve que -certamente- o admiraram, admiram e eternamente lembrarão dele com seus exemplos práticos de como agir, como ser feliz e simples, usando seu posto para fazer o certo e ser justo!
Agradeço imensamente ao Major Edson Aita -Comandante da 1ª Companhia de Guardas- por intermediar e tornar possível esta amizade entre este simples soldado de Infantaria com a família de um General, Infante... eternamente Infante!
Eis que, logo após a refeição, o Coronel Marsillac levanta uma taça, bate a faca na mesma e pede a atenção de toda a Família.
Então, um momento que já parecia surreal tornou-se inesquecível e emocionante ao extremo. O Coronel pede a palavra e num gesto de extrema bondade e delicadeza, minha namorada recebe uma linda pulseira da esposa do general Marsillac, dona Dulce (uma pessoa formidável, incrível, de força imensa e muito acolhedora). Logo após o coronel me entrega uma caixa -pesada- e então... eis que ao abrir a caixa a surpresa (e obviamente uma emoção inenarrável) toma conta de mim. Recebo uma réplica do Cachorrão que o general Marsillac recebeu quando deixou o comando da 1ª Companhia de Guardas.
O que dizer?
Como explicar o que senti?
Como sempre digo, nos melhores momentos da vida não temos muito o que dizer, apenas guardar bem o que se sente pra lembrarmos eternamente.
Não esperava -sinceramente- receber algo além da honra de poder visitar a dona Dulce, o Coronel Marsillac e ter a honra imensa de conhecer o lar do maior Infante que já passou pela 1ª Cia Gd - A Cia do Cachorrão!
O militar que serve na 1ª Companhia de Guardas tem, por tradição, ser conhecido como "Cachorrão", tendo em vista que nosso símbolo é o cão de guarda. Alguns poucos militares possuem seu Cachorrão pois na baixa por término de tempo de serviço ou transferência, uns poucos sortudos ganham esta mais que lembrança, ganham este símbolo de amizade, respeito e admiração.
Ao dar baixa ganhei o meu e ontem, ganhei um outro que -assim como o primeiro- estão e estarão pra sempre comigo, independente do que aconteça e onde quer que eu vá.
Muito obrigado à minha nobre família pois tudo que conquistei no Exército foi pensando neles, por eles e sem eles nada seria.
Mana (Ive Oliveira), minha sobrinha (Laura Alves) e minha amada Mãe (Ana Lúcia Pinheiro) já escrevi isso e sempre que eu receber algum elogio relacionado ao meu tempo na Caserna, no Exército, escreverei e repetirei quantas vezes preciso for: Sem vocês três eu NUNCA teria conseguido NADA! portanto, senhoras e senhorita, a vocês minha eterna gratidão pois quando eu mais precisei, mesmo à distância e mesmo sem saber, vocês me ajudavam e me fizeram superar meus limites.
Amo vocês!
Obrigado à Família do General Marsillac, ao Coronel Marsillac, à dona Dulce e toda a sua digníssima família.
Obrigado Major Aita pela possibilidade criada.
Obrigado a todos!

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Uma outra Família!



Palavras.
Frases.
Por vezes as palavras, as frases são vazias. Por outras vezes uma palavra pode carregar um turbilhão de sentimentos. Da mesma forma uma frase pode fazer o mesmo.
Proponho uma frase:
"A Guarda morre, mas não se rende!"
Pra muitos é uma frase apenas. Vazia, de repente até mesmo sem nexo.
Pra outros é um sentimento e basta começar a ler esta frase que a alma, o sangue, o peito fervem.
Muito se falou que a "1ª Companhia de Guardas seria extinta" ou que "a 1ª Companhia de Guardas seria incorporada no 3º BPE".
Pois bem, lhes digo que ainda não foi desta vez que os PEs terão a honra de conviver com os Cachorrões da CG!
Até 2017 a 1ª Companhia de Guardas estará firme e forte, cada vez com mais missões, mais materiais, mais dignidade e mais sangue no olho pra cumprir suas mais diversas missões.
Não é preciso muito tempo perto daqueles que ostentam nosso braçal atualmente para suspirar de orgulho e saber, sentir que estes honram todos que por lá passaram.
Ouso dizer mais, os Cachorrões que hoje servem o País e ostentam nosso braçal nos olham -Eternos Cachorroes- (já civis ou da reserva) e enxergam a si próprios num futuro breve. Esse fato por si só agrega, em um dia, tantos valores à Cia, aos soldados que lá estão e trás um orgulho imenso aos que lá passaram.
Sei que pode parecer um amontoado de palavras ao vento pra quem nunca colocou um coturno, nunca dividiu o pouco que tinha com o soldado ao lado enfim, pode ser até baboseira, não importa. Não pra mim.
Somente eu e meus colegas, só aqueles que servi e que hoje servem pode entender plenamente a gama de momentos, sentimentos que fazem o peito vibrar e nos faz descobrir do que realmente somos capazes.
O Exercito aprimora cidadãos de bem e prepara-os para uma vida eterna de superar obstáculos, respeitar, dividir, cuidar uns dos outros seja no campo, na escolta, na missão, no dia a dia... na vida.
Aprendemos vida no Exército.
Aprendemos uns com os outros, seja nos defeitos, seja nas virtudes de cada um; toda pessoa que entra no quartel sai diferente.
Deixamos os muros do quartel. Entregamos as fardas. Ficamos com lembranças materiais que não tem preço de mercado mas possuem um valor inestimável!
Uma foto. Um distintivo de bolso. Enfim, cada objeto, uma história sem fim.
Cada dia no quartel se tornará -num futuro próximo- motivo de sorrisos, histórias pros amigos, filhos, netos...
Certa vez lembro que o Tenente Volmir nos falou no estágio de ingresso do 4º Pelotão - FEI, algo semelhante a: "É muito fácil sair pra correr pela Redenção cantando que 'eu sei, o que eu faço, pouca gente quer fazer. O frio, a fome e a sede são as glórias de vencer!" e que ele queria ver isso tudo na prática.
Vimos.
Vivemos.
Sobrevivemos e todos se ajudaram.
Hoje não precisamos de muito. Um encontro anual entre estes caras que precisam apenas olhar uns nos olhos dos outros pra lembrar de infinitas histórias e, sem saber por onde começar a relembrar tanta missão, serviço, momentos engraçados, apenas sorriem, se olham e se abraçam.
O tempo passa, amigo... voa! Sugiro que ache algo que faça seu peito vibrar e quando achar, guarde no peito, na alma... ou no braço direito!!!
O meu braçal "CG" pode ter ficado na subtenência mas nunca saiu nem sairá da alma!
Mais uma vez, Major Edson Aita, muito obrigado por ter revolucionado os Encontros dos Eternos Cachorrões e unir esta imensa Família que cresce -mais e mais- a cada ano.
Tenha certeza que onde o senhor estiver, sempre será lembrado como o comandante que uniu todos os militares da ativa e reserva, independente de hierarquia mas sim por afinidades e, entre elas, uma em especial:
A honra de sermos Eternos Cachorrões!!!!
Outros encontros semelhantes podem existir de Norte a Sul do Brasil mas certamente os Cachorrões ficam no peito de todos que viajam Brasil afora!
Somos mais que militares, ex-militares ou militares da reserva...
Somos mais que apenas homens, apenas soldados, apenas amigos...
Somos irmãos que não escolheram servir juntos mas entenderam a intensidade e simplicidade, entenderam a força de um passado e presente glorioso, cheio de motivos pra olhar pra nossos braçais e agradecermos por termos sido escolhidos pra fazer parte desta Família.
"Quem é de Guarda, sempre será de Guarda!"
GUARDA!!!
BRASIL!!!

terça-feira, 12 de agosto de 2014

O Corneteiro



Soa a corneta.
Levanta o soldado.
Num pulo ágil da cama,
ele já acorda ligado.
Ao despertar do breve descanso,
acorda cansado mas vibrando.
O corpo nem tem tempo
pra sentir as dores de ser soldado.
A alma não deixa.
Vibra o soldado.
Enquanto -por extinto- arruma sua cama,
já imaginando o passo seguinte.
Ao término da arrumação,
já de imediato, encontra-se 
o soldado
de frente pro seu armário.
Puxa o coturno, a calça,
a camisa e a gandola.
Veste o corpo.
Farda a alma.
Correndo, junta seu material de higiene
e logo se encontra frente ao espelho
para deixar o rosto liso.
Soldado barbudo só em filme.
Rapidamente, o pelotão se reúne.
Em fora, frente à reserva do Pelopes
estão os nobres fuzileiros.
Acelerado, se dirigem até a reserva de armamento.
Fuzileiro sem fuzil só em filme.
O Infante, quando nasce, já está prometido
ao seu armamento.
Soa novamente a corneta:
Ouve-se 'formatura acelerado!'
'Depressa! Isso é ligeiro, soldado!'
Problemas sérios devem ser comunicados
quando ouve esse toque o soldado.
Alguns devem partir pra missão,
sem saber se dela retornarão.
Outros com mais sorte
apenas em prontidão ficarão.
Poucos serão liberados mas,
caso seja necessário, em uma hora
deverão se apresentar.
Não é fácil essa vida de soldado.
Situações Extraordinárias da Tropa.
Sobreaviso, prontidão e ordem de marcha.
Sobreaviso nada mais é que até poder sair do quartel
mas deixar o espírito com os colegas que ficaram.
Prontidão é estar pronto no alojamento, no quartel
mas as orações estão embarcadas,
junto com o grupamento da ordem de marcha.
Ordem de marcha é a carta escrita pra família
carinhosamente deixada no armário.
Esperando voltar logo da missão e,
com toda a força, alegria, alívio
e os melhores suspiros
rasgar esta carta por poder voltar em segurança ao lar.
Até o momento em que outra carta seja necessário escrever
e por tudo isso novamente, ter o soldado que passar.
Sem problemas.
Pra isso o soldado nasce.
Com o tempo ele há de se acostumar.
O brabo é sair na rua e ouvir,
de quem nunca um coturno calçou:
Pra que mesmo serve o EB?
A melhor resposta fica na alma do soldado.
O melhor que o militar tem são suas nobres ações.
Enquanto a grande maioria pensa muito,
fala demais e nada faz,
o soldado faz o que melhor sabe fazer:
É soldado.
Enquanto muitos falam, ele faz.
Pronto pra guerra o militar está.
Mas enquanto vivemos na paz, 
que ela seja vivida em sua plenitude.
Erga-se, rapaz, se aproxima o corneteiro.
E agora, qual será o recado???
Não te preocupes, meu jovem:
És soldado de Infantaria 
do Exército Brasileiro!!!

sábado, 24 de maio de 2014

Simples; como coisa de soldado.

Hoje eu tinha diversos compromissos.
Logo hoje.
Hoje tinha dito "sim" pra muitas coisas e tentei dividir meu tempo para comparecer onde prometi, fazer o que disse que faria e honrar minha palavra.
Mas apenas tentei dividir o tempo pois a alma já tinha lugar certo.
Desde ontem eu só pensava em estar num lugar.
E pra lá que meu corpo foi. Junto a ele, minh'alma.
Uma singela mas extremamente linda homenagem a um exemplo de militar, de pessoa e, por que não dizer, de colega de farda, de braçal.
Incrível como usamos ditos, frases, pensamentos no Exército e, por muitas vezes, por muito tempo, apenas fazemos isso da boca pra fora, de maneira vã mas quando passamos por certos momentos tudo parece -do nada- fazer sentido.
Quem serve na 1ª Companhia de Guardas é chamado de Cachorrão, tendo em vista nosso símbolo ser um cão de guarda.
Anualmente os Cachorrões promovem encontros e é impressionante como as mesmas histórias são contadas, ri-se das mesmas situações e parece ser sempre a primeira vez que ouvimos.
Esse sentimento, essa camaradagem, esse espírito de corpo, de cada um ter sua individualidade mas juntos sermos apenas um é que nos torna especiais, nos torna fortes e unidos de tal forma a nos denominarmos Eternos Cachorrões.
Pra quem ouve, "Eterno" parece o tipo de frase, de termos ditos da boca pra fora.
Só parece.
Todos iremos passar, isso é fato.
Todos nascemos e todos partiremos mas o que fazemos com nossas vidas neste intervalo pode fazer toda a diferença tanto nas nossas vidas como nas das pessoas que nos cercam.
Hoje fui me despedir do General Marsilac, o maior Cachorrão que conheci. Não pelo seu posto mas sim pelas atitudes, pelos exemplos, enfim.. o maior Cachorrão que conheci pois, apesar de ter conquistado o generalato, de ter conquistado o direito de ser chamado de excelência e sua esposa de madame pois assim manda o protocolo, o General Marsilac era um soldado.
Um homem da tropa que, pelo que aprendi e convivi, gostava de estar entre seus homens, seus comandados.
Sinto ter servido à minha Pátria por apenas sete anos. Sete anos que dei minha vida, dei meu sangue e procurei fazer meu melhor e, quando meu melhor não bastava, fiz mais que podia, mas acredito nunca ter decepcionado meus colegas.
Lamento não ter servido com o general mas servi com tanta gente boa que não posso me queixar.
Dia destes li uma frase que remeteu ao General:

"A palavra convence mas o exemplo arrasta!"

Hoje fui me despedir do Excelentíssimo Senhor General Marsilac.
O General era de Infantaria e, como bom Infante, era fanático pela "Rainha das Armas"; era fanático pela Nobre Infantaria.
Casou no dia 24 de Maio. Dia da Infantaria e, era seu desejo que, ao falecer, tivesse suas cinzas jogadas aos pés da estátua do Brigadeiro Antônio de Sampaio, Patrono da Infantaria.
Nada mudou, excelência!
Muitos usam esta frase mas poucos a cumprem e pra Cachorrão, missão paga é missão cumprida!
Cheguei à praça 5 minutos antes da cerimônia e, discretamente, de longe, tirei a única foto que registrei acima, antes de iniciar este texto. Apenas para mostrar aos meus filhos e netos e então eu pudesse ilustrar a homenagem de hoje.
Hoje não era dia de fotos. Não com câmera ou celular.
Hoje era dia de respeito, de celular no bolso e pensamento longe... era dia de lembranças.
Dia de sorriso pelo legado deixado por um homem que conquistou muito no Exército mas fazia questão de ser tratado como se tivesse muito a conquistar.
De longe vi os Cachorrões fardados comandados pelo tenente Barros e de pronto fui a eles.
Me apresentei, disse que era Cachorrão e é impressionante, inexplicável como não importa se os Cachorrões serviram juntos, se nunca se viram, Cachorrão se entende no olhar, em 2 minutos de conversa todos parecíamos velhos conhecidos.
Coisas de alma, sabe? Isso se sente, não se explica.
Fui apresentado à família do General; à sua esposa e ao seu filho, o Coronel Marsilac. Fui apresentado à Família toda, como o 'autor dos textos em homenagem ao general' e então amigos, aqui meus olhos começam a se encher de lembranças... 
Lembrança das expressões dos rostos como quem diz "então esse é o Gerson..." ou melhor, ouvir um "Muito obrigado pelo que escreveste!"
Sinceramente, apenas tentei colocar no papel, escrever um pouco sobre um homem espetacular, não tenho mérito algum pois o mérito é todo do General Marsilac... sou apenas um soldado.
Simples assim, como coisa de soldado.
Mas que honra foi ouvir cada palavra da família do general. Nossa...
De repente o coronel Marsilac me chama e diz que tem uma missão pra mim:
-"Gerson, gostaria que -em homenagem ao meu pai- tu puxasse a Oração do Infante!"
. . .
Temos uma Canção da 1ª Companhia de Guardas. Cada pelotão da Cia tem seu brado.
Mas a Oração do Infante de Guardas é sagrada.
Arrepia.
Pois a Canção da Cia, os brados dos pelotões arrepiam quem canta e quem ouve pela vibração, pelos pulmões. Todavia, a Oração arrepia porque não se executa 'apenas' a plenos pulmões mas o órgão usado é o coração. A Oração arrepia de dentro pra fora. Passa antes pela alma, pelo coração pra depois arrepiar o corpo. Antes, arrepia a alma!
Uma vez soldado, sempre soldado.
Havia um 1º Tenente em forma. Hierarquia e disciplina diferenciam o Exército de um 'bando armado'. Assim aprendi com meu ex-chefe da 2ª Seção.
Hierarquicamente pedi ao coronel que o Tenente puxasse a Oração e agradeci a imensa honra que ele concedeu a mim, um simples soldado.
A bem da verdade, eu estava com o peito a mil e não sei se conseguiria puxar a Oração até o fim sem os olhos lacrimejarem.
Pois bem, avisei aos soldados e logo eles se perfilaram. Entraram em forma ao lado do coronel e eu, discretamente, fiquei entre a família e os ex-comandados do general, ouvindo as palavras emocionadas do coronel, mesmo ele tendo me convidado pra ficar ao lado dele.
Não teve jeito.
Para minha imensa e indescritível honra, o coronel, em meio ao seu discurso, me convidou para ficar ao seu lado e prontamente me dirigi até ele.
Fiquei ao seu lado mas, não adianta, amigo... a farda sai do corpo mas não da alma portanto, dei um passo à retaguarda e fiquei ao lado dos Cachorrões que estavam fardados.
Emocionando a todos, o coronel Marsilac discursou, explicou o significado da Oração do Infante para nós Cachorrões e, logo após, solicitou que o tenente puxasse a Oração.
Assim foi.
O tenente comandou sentido e eu, agora civil, paisano, não respondi o comando. Não de corpo mas a alma alternava: por vezes em posição de sentido, por vezes de joelhos em oração. Isso aprendi em um livro: "Em dados momentos o corpo pode estar em pé mas a alma está de joelhos".
Não tardou e minh'alma mandou e o corpo obedeceu.
Perfilei-me aos Cachorrões fardados e bradei com eles nossa Oração.
Com vibração!
Com raiva!
Com sangue nos olhos!
Enfim.. com a alma...
Assim, novamente, foi.
Após, o coronel deu a cada um um pouco das cinzas do general. Depositamos aos pés do Brigadeiro Sampaio.
Sua família, seus amigos... todos, cada um do seu jeito, prestou sua homenagem.
Eu me agachei, fui pra um cantinho e abri minha mão. Simplesmente deixei o vento gelado levar as cinzas daquele grande ser humano.
O vento veio, levou -pouco a pouco- tudo que havia em minhas mãos e então fiquei quieto, imóvel e curioso para ver qual sentimento eu teria, o que viria em minha mente quando o vento levasse tudo.
Pois bem; compartilho o que pensei na hora com vocês:
"O vento -assim como o tempo- leva coisas, leva pessoas, oportunidades. 
Com o tempo, o vento tudo leva.
Mas por mais forte que seja o vento e por maior que seja o tempo
sempre fica algo.
Alguém sempre fica no corpo, na mente, na alma ou em tudo isso.
O homem nasceu da terra.
O fogo transformou um homem em cinzas.
O vento levou as cinzas à terra e um ciclo terminou.
Todos viemos do pó e ao pó todos voltaremos.
Agradeço às pessoas que convivo e deixaram um legado pra ser seguido.
Agradeço de corpo e alma.
Neste momento meu corpo estava agachado mas a alma...
A alma, meu amigo, ora estava de joelhos, ora em posição de sentido."

Partiu nosso Comandante maior.
Melhor homenagem não podia ter acontecido; a um grande soldado, grande Infante... a um grande amigo.
À Família, minhas mais sinceras e humildes condolências. Todo meu agradecimento por cada olhar, cada palavra, cada sentimento demonstrado.
Muito obrigado pela honra de me permitirem presenciar este momento que será, por mim, meus filhos e netos, eternamente lembrado!


Obrigado; simples assim... como coisa de soldado!


sábado, 10 de maio de 2014

Mãe é...


Mãe é lágrima de alegria e de orgulho transbordando pelos olhos.
Mas se for lágrima de tristeza, mãe é peito e é abraço.
Mãe é porto seguro... mãe é tudo!
Mãe é passado, presente e futuro.
Mãe é sábia quando nos livra de alguns muros
e é mais sábia ainda quando nos deixa dar de cara em outros.
Mãe ensina, portanto mãe é lição.
Um eterno dia a dia de palavras, ensinamentos práticos e teóricos.
Mãe é jogar junto conosco mesmo quando perdemos feio.
Mãe é a que entende no olhar, a que nos ouve mesmo calados.
Mãe é o peito acelerar!
É sentir o nosso peito apertar, sentir falta e não saber expressar
apenas deixar o peito doer...
Mãe é querer ser a última pessoa a vermos na vida,
e no nosso último suspiro é querer dela lembrar.
Mãe dá palmadas no olhar.
Mãe é filha. Pode ser avó.
E quantas avós são mães dos netos mesmo que por instantes?
Quantas lições aprendemos com mães... com as avós...
Lições que não se aprendem nos livros de nossas estantes
porque mãe é lição com amor, é lição de verdade!
Mãe é a força que nos ergue quando a vida nos embosca e arma uma cilada.
Mãe é um peito enorme e sem fim de solidariedade.
Mãe é sempre quem sempre faz tudo por nós sem esperar nada.
Mãe é o gesto mais intenso e sincero que levamos conosco por toda a vida.
À elas entregamos nossos melhores sorrisos, nossos mais apertados abraços.
Mãe é amar sem fim, incondicionalmente sem nem ao menos esperar ser amada.
Mãe é nem desconfiar que por mais emburrados que estejamos com ela
ela nem desconfiar que, por nós, seus filhos, toda mãe é idolatrada!
Mãe é a voz que nos guia, a luz que nos tira da escuridão.
Mãe é aquela que ensina, mesmo que o filho não aprenda.
Mãe de verdade é a que passa adiante todas as lições aprendidas
para que a vida do filho seja menos sofrida.
Mãe é a nossa melhor guarida.
Mãe é aquela que se enfurece quando o filho faz ou fala o que não deve
E é a mesma mãe que se emociona um pouco, ao ler o que o filho escreve.
Mãe chora de saudade, uma nostalgia que inunda o peito...
Mas todo o bom filho retorna ao lar...
...porque tem uma mãe que leva -eternamente- no peito.
Não importa onde vamos... nossa mãe sempre vai na frente.
Em suas orações ou nos fazendo lembrar de todas as lições,
são as avós e as mães que nos ensinam -da melhor forma- a ser homens
e deixarmos de sermos meninos.
Mães forte de corpo e alma, ao menos para seus filhos.
Mãe é nosso sol em dias nublados.


Mãe é o caminho que sigo, de olhos vendados.
Mães são heroínas... mães não se definem.
Inútil tantas palavras, frases... inútil tentar rimar.
Mãe é vida, é amor, é amar.
Mãe é tudo pra um filho
e não porque nos carrega com ela por nove meses
mas porque nós as carregamos por toda a vida
no lugar mais nobre do nosso peito.
É, mãe... te amo! Não tem jeito...


Gerson Pinheiro - 101205052014-sab

terça-feira, 6 de maio de 2014

Oração do Infante de Guarda


Oração do Infante de Guarda


Arrepie-se!

"Senhor
Tu que nos impeliste esta árdua missão
De guardiões dos quartéis e instalações militares
Concedei-nos, homens de braçais
A temperança para suportar as fadigas
A coragem para encarar as surpresas da noite
A sabedoria e a precisão para utilizar o nosso fuzil
Não permitas, ó Deus
Que a veste da inconsciência
Envolva-nos, combatentes de Guarda
E nos faça desistir de lutar
Se o inimigo ao acaso nos instigar
Pela honra de nossos antepassados
E pela grandeza da Nação Brasileira
A GUARDA MORRE
MAS NÃO SE RENDE!!!
GUARDA!!!!!"

sexta-feira, 28 de março de 2014

"A GUARDA MORRE... MAS NÃO SE RENDE!"


Simples.
Esse é o adjetivo.
Certa vez aprendi uma frase e, desde então, tenho como filosofia de vida seguí-la.
"No caráter, na conduta e no estilo, a simplicidade é a suprema virtude!"
A frase é de autoria de Henry Wadsworth Longfellow.
Estava eu aqui pensando em como iniciar um texto em homenagem ao General Marsilac.
Pensei em diversas características e incontáveis argumentos que ele possui* e deixou conosco.
Como sou tolo.

Bastou que eu parasse tudo, imaginasse a figura dele sentado em uma mesa cheia de soldados num piquete do Acampamento Farroupilha e acredito, pelo que conheci do General, que "simples" deveria ser um de seus adjetivos preferidos.
O General Marsilac é* o tipo de pessoa que nunca passará ou será esquecido pois ensinou vida com vida!
Ensinou exemplos dando exemplos e isso, amigo, não é pra qualquer um.

A grande maioria das pessoas querem impor lições sem dar exemplo algum, com um falso moralismo que por vezes indigna, por vezes é ridículo mas nunca ensinam pois lhes falta o principal: a essência!
O General Marsilac, ao contrário, é* essência pura.
Um senhor que, em poucos momentos, transmite tantas lições... não passa, não morre, enfim... pessoas assim se eternizam por seus feitos e por isso, cada palavra que antecede um asterisco*, foi conjugada propositalmente no presente, não no passado porque basta que um militar, um Cachorrão, basta que qualquer amigo do General Marsilac, que teve a honra de conviver com ele pense em uma frase, lição, pensamento, um gesto e pronto; eis que surgirá a garra, dedicação, a camaradagem, a amizade em sua forma mais pura e eficaz.
Hoje, fica o vazio... um sentimento estranho batendo no peito, como se algo procurasse mas nada achasse. Ecoa no peito um sentimento de falta, não tem jeito.

Hoje os Cachorrões ficaram órfãos do pai de todos os Cachorrões, do nosso líder maior.
No ano que a 1ª Companhia de Guardas passa pela maior mudança de toda a sua riquíssima história, nosso maior ícone nos deixa sós.
Tudo bem, excelência; o senhor treinou bem seus homens, nos ensinou pela maior das virtudes: a honra!
Nos guiou do melhor modo: pelo exemplo!
O senhor, General, fez tudo que devia, podia, quis e fez mais, com seu jeito humilde, simples de ser, o senhor conquistou um lugar de respeito, privilegiado e todo especial no peito e na alma de cada Eterno Cachorrão.

Hoje o senhor se tornou eterno de fato. Encontrou a tantos outros amigos que partiram antes do senhor.
Mas excelência, lhe digo com toda a razão:
Nunca sairás de nossos discursos, de nossas lembranças, simplesmente por ter conquistado tudo que podia e -certamente- mais do que esperava.
Em breve mais e mais Cachorrões estarão ao seu lado para seguirmos em mais batalhas e missões, seja onde for e como for.
Por hoje, nos resta apenas render-lhe o melhor dos que nos foi ensinado!
Nos resta nossa melhor guarda em forma.

Nos resta sermos os melhores soldados!
Hoje, excelência, só o que podemos é pegar nossos fuzis,

nos perfilarmos com o maior capricho,
a mais firme marcialidade e toda a vibração que habita nosso peito,
nossa alma e coração
pra então podermos ouvir os comandos devidos:
-"PRIMEIRA COMPANHIA DE GUARDAS, SENTIDO!"
-"OMBRO, ARMA!"
Então ouviremos o toque indicativo do posto de General!
Logo após, vibrantes como sempre e agindo de corpo e alma,

ouviremos os últimos comandos em sua homenagem:-"APRESENTAR ARMA!"
-"OLHAR À DIREITA!!!!"
E por fim, ouviremos -já saudosos- o seu exórdio executado pelo corneteiro.

É isso, excelência... a Guarda sai de forma, a vida segue e seus exemplos manterão o senhor conosco pela eternidade.
Hoje não lhe perdemos, comandante... apenas partiste para uma missão que todos partiremos um dia.

Até um dia, excelência.
Foi uma honra ter conhecido o senhor!
A tristeza é grande, podes ter certeza mas, como o senhor muito bem sabe:



-"A GUARDA MORRE... MAS NÃO SE RENDE!"

"GUAAAAAAAARDA!
BRASIL!!!!!!!!!!!


Oração do Infante de Guarda
(Clique no título para ouvir a oração)
"Senhor
Tu que nos impeliste esta árdua missão
De guardiões dos quartéis e instalações militares
Concedei-nos, homens de braçais
A temperança para suportar as fadigas
A coragem para encarar as surpresas da noite
A sabedoria e a precisão para utilizar o nosso fuzil
Não permitas, ó Deus
Que a veste da inconsciência
Envolva-nos, combatentes de Guarda
E nos faça desistir de lutar
Se o inimigo ao acaso nos instigar
Pela honra de nossos antepassados
E pela grandeza da Nação Brasileira
A GUARDA MORRE
MAS NÃO SE RENDE!!!
GUARDA!!!!!"

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O Comandante

(O amigo Heinrich, Major Aita - Comandante da 1ª Companhia de Guardas
e eu na Formatura de Aniversário da 1ª Companhia de Guardas)

Quem sou eu pra dizer quais atributos um militar precisa possuir pra ser um bom comandante.
Como ex-soldado de Infantaria sei quais características eu abominava, pois baixavam a moral da tropa, e sei -muito bem- quais qualidades causavam imensa admiração nos comandados.
Meu primeiro comandante foi o então Capitão Carlos Eduardo Ilha dos Santos, um homem íntegro, sério (quando devia ser sério) e justo, que adorava correr (pro meu azar de recruta... rsrsrs).
A Capitão Carlos Eduardo foi um dos comandantes mais atenciosos com a tropa e de um jeito sério (característico dele, ao menos para os soldados), cobrava muito o melhor para os seus militares.
Todas as quintas-feiras ele almoçava no refeitório dos cabos e soldados e, portanto, todos no quartel assim faziam; oficiais, graduados e praças. Mais ainda: cada um lavava sua bandeja, começando por ele. Todas as quintas-feiras.
A despedida foi de grande emoção pra todos, tanto pro Capitão como pra cada militar e convidado presente.
Grande homem.
Desde então passaram outros comandantes e servi com os senhores Major Luchezzi, Major Henrique e por fim, Major Moleta.
Cada um com suas peculiaridades mas, dos que servi, o Capitão Carlos Eduardo foi o que mais marcou pelos exemplos dados.
Então conheci o Major de Infantaria Edson Aita ou simplesmente Major Aita.
O Heinrich, ex-colega, amigo e irmão de farda, de braçal, tinha comentado, certa vez, que o novo comandante da Companhia era fora de série e um ser humano sensacional!
Conheci o Major e logo percebi nele um homem justo, que cobra de quem deve cobrar, descontrai quando pode mas nunca deixa de exigir o melhor de cada um para que o todo seja beneficiado, para que a 1ª Cia Gd esteja sempre em crescimento!
No Exército aprendi que um olhar fala muito; aprende-se a interpretar as pessoas, a reconhecê-las... acredite, isso é muto importante! A expressão no rosto de alguém diz muito sobre essa pessoa e sempre que vejo o Major Aita posso notar -facilmente- a expressão de sinceridade, intensidade e honestidade que habita a alma dele e, assim, passa a todos os seus comandados a sensação de "façam o que é certo que nunca estarão sozinhos!"
Não é que essa sensação seja importante... na verdade, pra um subordinado isso é tudo que importa!
Simples assim.
Palavras mostram o caminho à distância mas exemplos arrastam e isso o Major Aita faz diariamente, a cada aperto firme de mão olho no olho, naturalmente pois está intrínseco nele.
Minha baixa foi em 01 de março de 2007 e, desde então, alguns comandantes passaram pela Eterna Cia do Cachorrão. Não tomei conhecimento de nenhum que quisesse ajudar a unir os ex-militares. Muito menos de um que quisesse unir ex-soldados -tão esquecidos de qualquer confraternização por motivos que não cabe a mim especular mas, de fato, esquecidos.
O que posso dizer então de um Major que -teoricamente- não ganharia nada em troca fazendo tanta, mas tanta questão em unir ex-militares assim???
Pois é... essa visão seria de uma pessoa qualquer. O diferencial é que somos Cachorrões e isso, meu amigo, faz toda a diferença.
Vivenciamos experiências que nos moldaram como pessoas, que mudaram nossas vidas e que, através dos anos, viemos passando para os filhos, netos, amigos, colegas... enfim, fomos moldados, forjados no fogo intenso da dificuldade de honrar nosso braçal tão estimado e temos como dever passar os ensinamentos adiante a todos aqueles que convivemos.
Isso criou um laço inexplicável de amizade. Criou uma irmandade que ultrapassa postos ou graduações.
Servir na 1ª Companhia de Guardas nos fez pessoas especiais; nem melhores, nem piores... mas diferentes.
Em anos de convivência na caserna e 'pós-caserna', nunca vi uma pessoa que fizesse tanta questão de unir os militares e os ex-militares; questão de aproximar todos novamente, Cachorrões da atualidade e do passado em um só lugar, num só corpo... e como é bacana de ver pois o que se sente, cada vez que nos reunimos, é único!
Cada um sente do seu jeito mas três atributos estão sempre presentes: a intensidade, a sinceridade e a honestidade dos sentimentos!
Pronto; tudo explicado.
Quem carrega estes sentimentos na vida, como o Major Aita carrega, tem por natureza querer fazer sempre mais, fazer sempre melhor, enfim, tem por característica FAZER!
As pessoas se diferem porque umas pensam mas não fazem, outras nem pensam, outras pensam e fazem! Agem!

na vida seremos eternamente lembrados por nossas ações e omissões. Pelo que fizemos e pelo que deixamos de fazer. 
Hoje, na formatura, ouvi o general dizer que a 1ª Companhia de Guardas estaria sob seu comando em uma missão futura que se aproxima. Me desculpe, excelência mas -de imediato- o primeiro pensamento que veio à minha mente foi:
-"Será um imenso prazer... PRO SENHOR, general, comandar estes homens!!!!"
Comandará homens que, desde a primeira vez que colocaram os braçais, se tornaram almas abençoadas e diferenciadas para viver um espírito só, em corpos separados.
Parabéns Major por -tão rapidamente- entender, participar, unir e vibrar junto com os Cachorrões, incorporando este sentimento tão logo o senhor se deparou com ele.
Muitos podiam fazer um pouco do tanto que o senhor fez, mas não o fizeram.
Muitos poderiam unir os Cachorrões pois vontade nunca faltou mas, não o fizeram.
Muitos tiveram a chance mas viraram o rosto pra ela enquanto o senhor, mesmo antes da primeira oportunidade de unir os Cachorrões aparecer, já estava sentindo que a Companhia não era só uma OM... mas um lugar onde a primeira pessoa do singular não vinga. O 'eu' na 1ª Cia Gd não vale nada. Mas o 'nós' faz toda a diferença entre o sucesso real e o fracasso iminente.
O senhor foi escolhido a dedo (não por generais, nem políticos... mas por Deus) para ser o comandante da Companhia neste momento crucial, tão especial e histórico pra todos nós.
Mesmo não sendo mais militar lhe digo, Major: O senhor está no comando dos Cachorrões;  da ativa e da reserva.
Nunca um militar da CG ousou deixar de seguir um bom líder. Não começaríamos agora, tendo um dos melhores de todos os tempos.
Seguimos a sua sinceridade, demonstrada a cada vez que o senhor aperta nossas mãos para cumprimentar um Cachorrão!
Seguimos sua intensidade pois nela consta a vibração que é inerente aos Cachorrões!
E por fim, mas não menos importante, seguimos sua honestidade!
Parabéns pelo ser humano que és!
Parabéns pelo modo como trata a todos, excelentíssimos senhores generais (que conquistaram este pronome de tratamento) e por fazer simples ex-soldados sentirem-se tão importantes.
Esse mistério, essa inexplicável sensação de sermos um só espírito dividido em vários corpos nos torna mais fortes e faz com que um general de 98 anos ou um recruta de 19 sinta a mesma responsabilidade e imortalidade que só o braçal da CG dá.
A Companhia muda de lugar.
Cachorrões incorporam e dão baixa.
Alguns, infelizmente, partem e nos deixam mas.. outros nascem!
O que nunca muda (e espero que nunca mude no senhor) é esse tal espírito... essa vibração que nos acompanha e acompanhará pra todo o sempre pois afinal de contas, quem é de Guarda, sempre será de Guarda!
Um forte abraço, Major Aita!
Conte comigo para unir e manter essa chama dos Cachorrões acessa!

O Reencontro


O reencontro foi inesperado.
Adentrei o portão das armas e, ao olhar para a guarda, lá estava o meu ex-chefe e eterno amigo Tenente Volmir; um dos mais importantes, inteligentes, dedicados e conhecidos militares que a 1ª Companhia de Guardas teve em seu quadro operacional.
Instrutor de cursos lembrado por sua incontestável competência, conduta ilibada, vibração incomparável e incrível capacidade de decorar rostos e ligá-los a números... este é o Tenente Volmir.
Tive a sorte de ser seu subordinado direto na 2ª Seção e aprendi muito sobre Exército, vida, amizade, sobre tantos conceitos e atributos que as pessoas tanto falam mas pouco praticam.
Lembro-me, como se fosse hoje, o dia em que escolheram nosso pelotão, o 4º Pelotão - Força de Emprego Imediato- para recolher entulhos. Um pelotão formado apenas por soldados antigos e que passava os dias treinando, realizando escoltas, apresentações, patrulhas e toda a sorte de missão que surgisse... e deixaram outros 3 pelotões de recrutas fora desta "missão fûba".
Ao ver nosso pelotão recolhendo entulho, o então ST Volmir e o ST Régis, respectivamente comandante e sub comandante do pelotão, nos indagaram:
-"Por que vocês estão fazendo isso? Por que não os recrutas?"
Então respondemos que tinha sido ordem do tenente sub comandante da Companhia.
Os dois se olharam e, sob um calor escaldante, mesmo vestindo o 4º uniforme (de instrução, o "uniforme camuflado"), tiraram suas camisas, pegaram a pá dos soldados que estavam recolhendo o entulho e disseram:
-"Vamos revezar; descansem um pouco."
Então o pelotão todo se entreolhou e uma situação de raiva, injustiça e indiferença com os soldados antigos transformou-se, com apenas uma atitude, num motivo para unir mais ainda o pelotão e mostrar que tipo de seres humanos estavam nos comandando. Que tipo de pessoas estávamos subordinados.
Eles, como graduados e quase oficiais que eram, não tinham o mínimo dever de fazer isso, de auxiliar, mas mesmo assim o fizeram e não resta dúvida alguma que seus atos, tanto este como tantos outros, foram de extrema importância e tornou, cada dia vivido naquele pelotão, um aprendizado que levaremos -todos- eternamente conosco.
O reencontro com o senhor foi muito bacana, tenente pois se a vida passa rápido, reviver os bons momentos nos fazem voltar no tempo, sorrir, ver que tudo valeu (e muito) a pena.
Na foto, como não podia deixar de ser, fomos abençoados na formatura com uma chuva divina; a mesma que abençoa os infantes nos campos, nos serviços, patrulhas e, por mais contraditório que possa parecer, a chuva que cai ajuda a forjar o aço da amizade entre os Infantes.
Como o senhor costumava nos dizer: "Os molhados são apenas úmidos pra Infantaria!"
Então, para finalizar, agradeço ao Senhor por ter tido a honra de conhecê-lo, assim como grandes amigos e irmãos que conquistei na 1ª Companhia de Guardas. Deus tem um propósito pra cada um de nós e tenha certeza que os capítulos que escrevemos no livro da vida, os capítulos escritos dentro dos muros da 1ªCia Gd, foram de suor, sangue, lágrimas, aprendizado, derrotas e vitórias das quais muitas o senhor ajudou a escrever.
Obrigado por tudo e que "a entidade dos mais valentes" vibre sempre em nossos corações, peito e alma!!!
Forte abraço, Tenente Volmir da Rosa Batista!!!

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Aço é alma


Antes de me alistar no Exército eu era um vadio!
(Óh... 'momento perplexo'... rsrs)

Sinceramente?
Foi cruel.

Teve um dia que cansei de ser vadio e, ao ser perguntado por um sargento, na tão temida entrevista que todos os jovens de 18 anos enfrentam, no Quartel General da Bento Martins eu disse "SIM! QUERO SERVIR!".
E então, do alto da minha incerteza em querer servir ou sobrar, na dúvida cruel entre seguir um vadio que tinha vergonha de levantar da cama e não fazer porcaria nenhuma ou começar a habitar o mundo de verdade... escolhi o segundo e me joguei de cabeça na vida militar.
Foi sensacional.
Sério. Indescritível!
Resumidamente: fiz amigos que levarei pra vida toda pois nossa amizade foi forjada no fogo da dificuldade e te digo, meu caro, como cantávamos no quartel, naquelas músicas de corrida: "É no fogo bem mais quente que se forja o aço bom!"

Aff... sempre corri feito louco e sempre 'puxei contagens' (músicas de corrida) falando sobre tudo e essa era uma das que não entendia muito. Mal sabia que esse fogo eram as dificuldades e o aço era a amizade.
Bingo!
Nas dificuldades que enfrentamos na vida sentimos o calor do fogo.

Mas o aço (nossa alma) se torna mais forte cada vez que passa pelo fogo, pois não viemos sozinhos pro mundo e não passamos sozinhos pelas dificuldades.
Dói. Marca... e marca mesmo.
Muitas vezes somos marcados pra sempre mas as dificuldades passam, os ensinamentos ficam e nós ficamos mais fortes.
Nascemos fortes e não sabemos.
Nossa força fica guardada na alma e alma não se vê, se sente!

Uma mãe tira forças não se sabe de onde pra defender sua cria... ou melhor, se sabe sim: da alma!
Uma das primeiras coisas que um soldado de Infantaria aprende é: ao ver uma granada não pense, se jogue em cima. Assim perde-se uma vida e salva-se várias outras. Com um pequeno detalhe, quem viu deve se jogar. Sem pensar.
Se formos comparar, na vida acontece o mesmo quando um amigo (de verdade, não os de festim, de isopor que encontramos aos montes hoje em dia) faz de tudo pelo outro sem pensar e então eles virão irmãos. Não de sangue pois esses não escolhemos mas irmão de alma, escolhidos a dedo e forjados no mais quente fogo.
Não esquente; não se preocupe.
Se hoje estás com dificuldades, se hoje o fogo aumenta mais e mais a cada dia, logo sairás mais forte, com um aço mais resistente ás próximas labaredas.
Olhe ao redor, este aço nunca estará só no fogo.
E se jogarem mais lenha na fogueira? Que joguem.
Não sabem com que aço estão lidando!

Aço é alma e alma boa nunca anda sozinha...