quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O Comandante

(O amigo Heinrich, Major Aita - Comandante da 1ª Companhia de Guardas
e eu na Formatura de Aniversário da 1ª Companhia de Guardas)

Quem sou eu pra dizer quais atributos um militar precisa possuir pra ser um bom comandante.
Como ex-soldado de Infantaria sei quais características eu abominava, pois baixavam a moral da tropa, e sei -muito bem- quais qualidades causavam imensa admiração nos comandados.
Meu primeiro comandante foi o então Capitão Carlos Eduardo Ilha dos Santos, um homem íntegro, sério (quando devia ser sério) e justo, que adorava correr (pro meu azar de recruta... rsrsrs).
A Capitão Carlos Eduardo foi um dos comandantes mais atenciosos com a tropa e de um jeito sério (característico dele, ao menos para os soldados), cobrava muito o melhor para os seus militares.
Todas as quintas-feiras ele almoçava no refeitório dos cabos e soldados e, portanto, todos no quartel assim faziam; oficiais, graduados e praças. Mais ainda: cada um lavava sua bandeja, começando por ele. Todas as quintas-feiras.
A despedida foi de grande emoção pra todos, tanto pro Capitão como pra cada militar e convidado presente.
Grande homem.
Desde então passaram outros comandantes e servi com os senhores Major Luchezzi, Major Henrique e por fim, Major Moleta.
Cada um com suas peculiaridades mas, dos que servi, o Capitão Carlos Eduardo foi o que mais marcou pelos exemplos dados.
Então conheci o Major de Infantaria Edson Aita ou simplesmente Major Aita.
O Heinrich, ex-colega, amigo e irmão de farda, de braçal, tinha comentado, certa vez, que o novo comandante da Companhia era fora de série e um ser humano sensacional!
Conheci o Major e logo percebi nele um homem justo, que cobra de quem deve cobrar, descontrai quando pode mas nunca deixa de exigir o melhor de cada um para que o todo seja beneficiado, para que a 1ª Cia Gd esteja sempre em crescimento!
No Exército aprendi que um olhar fala muito; aprende-se a interpretar as pessoas, a reconhecê-las... acredite, isso é muto importante! A expressão no rosto de alguém diz muito sobre essa pessoa e sempre que vejo o Major Aita posso notar -facilmente- a expressão de sinceridade, intensidade e honestidade que habita a alma dele e, assim, passa a todos os seus comandados a sensação de "façam o que é certo que nunca estarão sozinhos!"
Não é que essa sensação seja importante... na verdade, pra um subordinado isso é tudo que importa!
Simples assim.
Palavras mostram o caminho à distância mas exemplos arrastam e isso o Major Aita faz diariamente, a cada aperto firme de mão olho no olho, naturalmente pois está intrínseco nele.
Minha baixa foi em 01 de março de 2007 e, desde então, alguns comandantes passaram pela Eterna Cia do Cachorrão. Não tomei conhecimento de nenhum que quisesse ajudar a unir os ex-militares. Muito menos de um que quisesse unir ex-soldados -tão esquecidos de qualquer confraternização por motivos que não cabe a mim especular mas, de fato, esquecidos.
O que posso dizer então de um Major que -teoricamente- não ganharia nada em troca fazendo tanta, mas tanta questão em unir ex-militares assim???
Pois é... essa visão seria de uma pessoa qualquer. O diferencial é que somos Cachorrões e isso, meu amigo, faz toda a diferença.
Vivenciamos experiências que nos moldaram como pessoas, que mudaram nossas vidas e que, através dos anos, viemos passando para os filhos, netos, amigos, colegas... enfim, fomos moldados, forjados no fogo intenso da dificuldade de honrar nosso braçal tão estimado e temos como dever passar os ensinamentos adiante a todos aqueles que convivemos.
Isso criou um laço inexplicável de amizade. Criou uma irmandade que ultrapassa postos ou graduações.
Servir na 1ª Companhia de Guardas nos fez pessoas especiais; nem melhores, nem piores... mas diferentes.
Em anos de convivência na caserna e 'pós-caserna', nunca vi uma pessoa que fizesse tanta questão de unir os militares e os ex-militares; questão de aproximar todos novamente, Cachorrões da atualidade e do passado em um só lugar, num só corpo... e como é bacana de ver pois o que se sente, cada vez que nos reunimos, é único!
Cada um sente do seu jeito mas três atributos estão sempre presentes: a intensidade, a sinceridade e a honestidade dos sentimentos!
Pronto; tudo explicado.
Quem carrega estes sentimentos na vida, como o Major Aita carrega, tem por natureza querer fazer sempre mais, fazer sempre melhor, enfim, tem por característica FAZER!
As pessoas se diferem porque umas pensam mas não fazem, outras nem pensam, outras pensam e fazem! Agem!

na vida seremos eternamente lembrados por nossas ações e omissões. Pelo que fizemos e pelo que deixamos de fazer. 
Hoje, na formatura, ouvi o general dizer que a 1ª Companhia de Guardas estaria sob seu comando em uma missão futura que se aproxima. Me desculpe, excelência mas -de imediato- o primeiro pensamento que veio à minha mente foi:
-"Será um imenso prazer... PRO SENHOR, general, comandar estes homens!!!!"
Comandará homens que, desde a primeira vez que colocaram os braçais, se tornaram almas abençoadas e diferenciadas para viver um espírito só, em corpos separados.
Parabéns Major por -tão rapidamente- entender, participar, unir e vibrar junto com os Cachorrões, incorporando este sentimento tão logo o senhor se deparou com ele.
Muitos podiam fazer um pouco do tanto que o senhor fez, mas não o fizeram.
Muitos poderiam unir os Cachorrões pois vontade nunca faltou mas, não o fizeram.
Muitos tiveram a chance mas viraram o rosto pra ela enquanto o senhor, mesmo antes da primeira oportunidade de unir os Cachorrões aparecer, já estava sentindo que a Companhia não era só uma OM... mas um lugar onde a primeira pessoa do singular não vinga. O 'eu' na 1ª Cia Gd não vale nada. Mas o 'nós' faz toda a diferença entre o sucesso real e o fracasso iminente.
O senhor foi escolhido a dedo (não por generais, nem políticos... mas por Deus) para ser o comandante da Companhia neste momento crucial, tão especial e histórico pra todos nós.
Mesmo não sendo mais militar lhe digo, Major: O senhor está no comando dos Cachorrões;  da ativa e da reserva.
Nunca um militar da CG ousou deixar de seguir um bom líder. Não começaríamos agora, tendo um dos melhores de todos os tempos.
Seguimos a sua sinceridade, demonstrada a cada vez que o senhor aperta nossas mãos para cumprimentar um Cachorrão!
Seguimos sua intensidade pois nela consta a vibração que é inerente aos Cachorrões!
E por fim, mas não menos importante, seguimos sua honestidade!
Parabéns pelo ser humano que és!
Parabéns pelo modo como trata a todos, excelentíssimos senhores generais (que conquistaram este pronome de tratamento) e por fazer simples ex-soldados sentirem-se tão importantes.
Esse mistério, essa inexplicável sensação de sermos um só espírito dividido em vários corpos nos torna mais fortes e faz com que um general de 98 anos ou um recruta de 19 sinta a mesma responsabilidade e imortalidade que só o braçal da CG dá.
A Companhia muda de lugar.
Cachorrões incorporam e dão baixa.
Alguns, infelizmente, partem e nos deixam mas.. outros nascem!
O que nunca muda (e espero que nunca mude no senhor) é esse tal espírito... essa vibração que nos acompanha e acompanhará pra todo o sempre pois afinal de contas, quem é de Guarda, sempre será de Guarda!
Um forte abraço, Major Aita!
Conte comigo para unir e manter essa chama dos Cachorrões acessa!

O Reencontro


O reencontro foi inesperado.
Adentrei o portão das armas e, ao olhar para a guarda, lá estava o meu ex-chefe e eterno amigo Tenente Volmir; um dos mais importantes, inteligentes, dedicados e conhecidos militares que a 1ª Companhia de Guardas teve em seu quadro operacional.
Instrutor de cursos lembrado por sua incontestável competência, conduta ilibada, vibração incomparável e incrível capacidade de decorar rostos e ligá-los a números... este é o Tenente Volmir.
Tive a sorte de ser seu subordinado direto na 2ª Seção e aprendi muito sobre Exército, vida, amizade, sobre tantos conceitos e atributos que as pessoas tanto falam mas pouco praticam.
Lembro-me, como se fosse hoje, o dia em que escolheram nosso pelotão, o 4º Pelotão - Força de Emprego Imediato- para recolher entulhos. Um pelotão formado apenas por soldados antigos e que passava os dias treinando, realizando escoltas, apresentações, patrulhas e toda a sorte de missão que surgisse... e deixaram outros 3 pelotões de recrutas fora desta "missão fûba".
Ao ver nosso pelotão recolhendo entulho, o então ST Volmir e o ST Régis, respectivamente comandante e sub comandante do pelotão, nos indagaram:
-"Por que vocês estão fazendo isso? Por que não os recrutas?"
Então respondemos que tinha sido ordem do tenente sub comandante da Companhia.
Os dois se olharam e, sob um calor escaldante, mesmo vestindo o 4º uniforme (de instrução, o "uniforme camuflado"), tiraram suas camisas, pegaram a pá dos soldados que estavam recolhendo o entulho e disseram:
-"Vamos revezar; descansem um pouco."
Então o pelotão todo se entreolhou e uma situação de raiva, injustiça e indiferença com os soldados antigos transformou-se, com apenas uma atitude, num motivo para unir mais ainda o pelotão e mostrar que tipo de seres humanos estavam nos comandando. Que tipo de pessoas estávamos subordinados.
Eles, como graduados e quase oficiais que eram, não tinham o mínimo dever de fazer isso, de auxiliar, mas mesmo assim o fizeram e não resta dúvida alguma que seus atos, tanto este como tantos outros, foram de extrema importância e tornou, cada dia vivido naquele pelotão, um aprendizado que levaremos -todos- eternamente conosco.
O reencontro com o senhor foi muito bacana, tenente pois se a vida passa rápido, reviver os bons momentos nos fazem voltar no tempo, sorrir, ver que tudo valeu (e muito) a pena.
Na foto, como não podia deixar de ser, fomos abençoados na formatura com uma chuva divina; a mesma que abençoa os infantes nos campos, nos serviços, patrulhas e, por mais contraditório que possa parecer, a chuva que cai ajuda a forjar o aço da amizade entre os Infantes.
Como o senhor costumava nos dizer: "Os molhados são apenas úmidos pra Infantaria!"
Então, para finalizar, agradeço ao Senhor por ter tido a honra de conhecê-lo, assim como grandes amigos e irmãos que conquistei na 1ª Companhia de Guardas. Deus tem um propósito pra cada um de nós e tenha certeza que os capítulos que escrevemos no livro da vida, os capítulos escritos dentro dos muros da 1ªCia Gd, foram de suor, sangue, lágrimas, aprendizado, derrotas e vitórias das quais muitas o senhor ajudou a escrever.
Obrigado por tudo e que "a entidade dos mais valentes" vibre sempre em nossos corações, peito e alma!!!
Forte abraço, Tenente Volmir da Rosa Batista!!!

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Aço é alma


Antes de me alistar no Exército eu era um vadio!
(Óh... 'momento perplexo'... rsrs)

Sinceramente?
Foi cruel.

Teve um dia que cansei de ser vadio e, ao ser perguntado por um sargento, na tão temida entrevista que todos os jovens de 18 anos enfrentam, no Quartel General da Bento Martins eu disse "SIM! QUERO SERVIR!".
E então, do alto da minha incerteza em querer servir ou sobrar, na dúvida cruel entre seguir um vadio que tinha vergonha de levantar da cama e não fazer porcaria nenhuma ou começar a habitar o mundo de verdade... escolhi o segundo e me joguei de cabeça na vida militar.
Foi sensacional.
Sério. Indescritível!
Resumidamente: fiz amigos que levarei pra vida toda pois nossa amizade foi forjada no fogo da dificuldade e te digo, meu caro, como cantávamos no quartel, naquelas músicas de corrida: "É no fogo bem mais quente que se forja o aço bom!"

Aff... sempre corri feito louco e sempre 'puxei contagens' (músicas de corrida) falando sobre tudo e essa era uma das que não entendia muito. Mal sabia que esse fogo eram as dificuldades e o aço era a amizade.
Bingo!
Nas dificuldades que enfrentamos na vida sentimos o calor do fogo.

Mas o aço (nossa alma) se torna mais forte cada vez que passa pelo fogo, pois não viemos sozinhos pro mundo e não passamos sozinhos pelas dificuldades.
Dói. Marca... e marca mesmo.
Muitas vezes somos marcados pra sempre mas as dificuldades passam, os ensinamentos ficam e nós ficamos mais fortes.
Nascemos fortes e não sabemos.
Nossa força fica guardada na alma e alma não se vê, se sente!

Uma mãe tira forças não se sabe de onde pra defender sua cria... ou melhor, se sabe sim: da alma!
Uma das primeiras coisas que um soldado de Infantaria aprende é: ao ver uma granada não pense, se jogue em cima. Assim perde-se uma vida e salva-se várias outras. Com um pequeno detalhe, quem viu deve se jogar. Sem pensar.
Se formos comparar, na vida acontece o mesmo quando um amigo (de verdade, não os de festim, de isopor que encontramos aos montes hoje em dia) faz de tudo pelo outro sem pensar e então eles virão irmãos. Não de sangue pois esses não escolhemos mas irmão de alma, escolhidos a dedo e forjados no mais quente fogo.
Não esquente; não se preocupe.
Se hoje estás com dificuldades, se hoje o fogo aumenta mais e mais a cada dia, logo sairás mais forte, com um aço mais resistente ás próximas labaredas.
Olhe ao redor, este aço nunca estará só no fogo.
E se jogarem mais lenha na fogueira? Que joguem.
Não sabem com que aço estão lidando!

Aço é alma e alma boa nunca anda sozinha...