domingo, 10 de novembro de 2013

O Encontro dos Encontros!



Com meu limitado vocabulário, com mu modo extremamente simples de ser e viver, fiquei aqui, por horas, tentando achar o modo certo de contar o que vi, vive, passei, lembrei. O que aprendi.
Decido então, sentar em frente ao computador e deixar que cada lembrança tome seu lugar nestas frases, neste texto e que maior quantidade possível de lembranças boas inunde o peito e a alma de cada um que ler o que escrevo.
Pois bem, lá vai.
Ontem, enquanto caminhava sozinho pelo pátio da 1ª Companhia de Guardas, fiquei imaginando o quanto de tradição este novo chão tem e o quanto de tradição ficou na antiga Cia Gd, na Vieira de Castro, 222.
Depois de pensar um pouco, uma voz veio “do nada” e me fez ver que não, a tradição não está em um endereço nem em um pátio. A tradição, na minha humilde opinião, está na alma de quem já marchou usando esta farda, ostentando um braçal e traçou o alamar para prender na lapela e colocá-lo no braço.
A tradição da 1ª Companhia de Guardas está na união, nas pessoas que passaram, que estão passando e ainda passarão neste quartel.
Não importa de apenas de onde veio a 1ª Companhia de Guardas, nem mesmo importa apenas os nomes que teve, não importa o “apenas”, o que vale de verdade é o todo, o contexto, o conjunto, a união pois a Companhia é feita de pessoas.
Isto, no meu ponto de vista, difere a 1ª Companhia de Guardas. A união!
É isso que nos fez tornarmos homens e deixarmos de ser meninos, guris.
No quartel aprendemos a passar dificuldades, dividimos o pouco que temos com o colega ao lado, com os irmãos que fazemos pois se a vida não nos deu um irmão, no Exército nos unimos de tal forma a ponto de amizades nascerem na dificuldade e se tornarem eternas. A Cia Gd torna-se nossa irmandade.
Se a vida não te deu um irmão de sangue, pelo suor e sangue, a vida te mostra o quanto pessoas desconhecidas podem se tornar próximas como um irmão; o quanto se arriscam uns pelos outros, compram brigas, sorriem, choram, brincam, brigam, defendem uns aos outros de forma tão intensa, sincera e tão inexplicável que não se tenta mostrar a ninguém, não se explica a ninguém. Servir na Cia do Cachorrão nos faz diferentes de outros quartéis.
Não sou supersticioso, nem acredito em magia.
Respeito todas as opiniões e principalmente religiões.
Respeito muito a fé das pessoas, sejam quais forem. Mas existe uma mística neste quartel que não se pode negar. Um sentimento tão forte, intenso e puro e ao mesmo tempo automático que não é um cabo, um soldado, um sargento nem mesmo oficial que ensina, mas o braçal, o alamar, o dia à dia na caserna que nos molda Infantes de Guarda e faz com que, um excelentíssimo senhor de 98 anos não perca um só encontro entre seus antigos comandados e entre aqueles que, com toda certeza, tornam este homem um jovem soldado novamente.
Uma vez soldado, sempre soldado.
Uma vez Cachorrão, sempre cachorrão.

Não importa pra onde vá, se é militar de carreira, não importa que nova carreira tenhas, se for um temporário que hoje se encontra paisano... nada disso importa porque independente do que faças, caro amigo, o uniforme muda, a profissão pode mudar, mas o braçal, meu caro, esse nunca (e eu disse nunca) sairá de ti e sabes por quê? Simplesmente  porque quando alguém coloca algo em nossa alma, isso é levado conosco pela vida toda e assim é o braçal, o sentimento de estar um Cachorrão é eterno.
Tenho pra mim que “sentimentos” não se explicam, não se escrevem, apenas sentimos. São nobres demais para que um simples mortal como eu possa definí-los, sejam quais forem.
Tente definir, escrever o que é “amor”? O que é “paixão”... podes tentar e até se sair bem mas o sentimento perde a graça. É como escrever à amada tentando explicar como é o amor e perder tempo, podendo demonstrá-lo ao invés de escrever o que não pode ser descrito.
Não se explica um amor de verdade, aquele que se olha nos olhos e não é preciso dizer nada, apenas amamos e sentimos o corpo ferver.
É tão sincero, puro, forte e incondicional que é inexplicável.
Assim é o amor à 1ª Companhia de Guardas.
Antes, na época de seleção, nos primeiros contatos, o sentimento era de apreensão. 
O que viria pela frente?
Queria logo ser soldado e ver como era, o que fazia, queria atirar de fuzil, andar fardado, queria tudo ao mesmo tempo mas vi que seria necessário conquistar tudo que quisesse e nada viria fácil, pois nada seria esquecido. As lições ensinadas na caserna seriam importantíssimas a ponto de se tornarem eternas.
E rever as pessoas que conquistaram isso comigo, não tem preço.
Algumas conquistas que tive foram premiadas com a presença de minha família e divididas com eles. Outras eu aprendi sozinho, nas madrugadas de serviço e campo, ou com uma esquadra no frio, chuva, embarrados, com fome e sede mas dividindo o pouquíssimo que tínhamos e arranjando o que não tínhamos.
Lembrando isso, vários colegas e situações vem à mente.
As lições que se aprendem no quartel são tão intensas que a união é inevitável! A camaradagem, a amizade que se formam nas dificuldades são testadas de forma intensa através dos tempos, dos dias, noites, madrugadas, escoltas, patrulhas, serviços, enfim, a todo instante nossa amizade é posta à prova e costumamos dizer no Exército que “é no fogo bem mais quente que se forja o aço bom” portanto, não existe aço mais forte que a união dos Cachorrões pois passamos por poucas e boas juntos.
Uns de nós podem ser muito importantes em suas novas carreiras e terem mais sucesso que outros, mais grana e outros menos sucesso, menos grana mas... sinceramente, o que nos diferencia dos outros e ao mesmo tempo nos torna tão parecidos e insuperáveis, é o simples fato de nos sentirmos um. De sermos um Cachorrão.
Somos aquele cachorrão pintado nas paredes do quartel.
Somos mais porque cada um do seu modo, com suas qualidades e defeitos, é o mesmo Cachorrão que habita o peito, mente e alma uns dos outros.
Ontem tive a oportunidade de rever colegas, de conhecer seus filhos (abraço ao Francisco e ao Soares; baita colegas, baita seres humanos e excelentes pais), de ver como estão bem de saúde, felizes e ver no rosto de cada um o mesmo sorriso e sentimento que tive ao revê-los.
Eternos Cachorrões... somos uma família.
Somos Eternos Cachorrões não porque nunca morremos, mas porque não importa pra onde nos mandem, o Espírito da Infantaria de Guarda, o Espírito dos Eternos Cachorrões nunca morrerá pois sempre haverá um Cachorrão pra ostentar um braçal que, mesmo não estando em seu braço, estará, sem sombra de dúvidas, na alma!
Oficiais, sargentos, soldados, todos juntos, confraternizando na presença dos atuais militares que honram nossa história, nosso braçal.
Cachorrão não é apenas aquele militar que está, por tradição, impecavelmente fardado mas sim aquele que nunca tira o braçal da alma independente do que faça, da idade que tenha, de onde vá.
Ontem, como milico de alma que ainda sou muitas vezes, estava curtindo a confraternização mas pensando no quanto cada militar que lá estava queria ir pra casa descansar, pois cumpriram muito bem a missão que foram designados. Padrão CG! Alto padrão pois, mesmo na simplicidade das ações, característica inerente ao soldado, foram perfeitos em suas missões e sempre atenciosos, prestativos, trataram todos com a mesma importância e respeito que, um dia, quando visitarem a 1ª Cia Gd como ex-militares, também serão tratados.
Parabéns aos militares que estavam nessa missão de nos recepcionar! Parabéns também aos que estavam de serviço e possibilitaram que outros pudessem nos receber.
A cada nova visita que faço à Companhia, mais orgulho sinto de ter servido nesse quartel e mais orgulho sinto dos militares que lá estão.
Certamente receberão os elogios devidos em formatura pois todo o elogio -quando é merecido- ecoa eternamente em nossas mentes, nos inspirando a buscar mais elogios merecidos.
Parabéns a todos os Cachorrões!
Cachorrões que estufam o peito pra responder que servem ou serviram na 1ª Companhia de Guardas e observam o respeito de quem ouve isso.
Somos mais porque somos Eternos.
Não somos melhores, nem piores que outros militares ou ex-militares, somos mais porque sempre que um Cachorrão vê outro Cachorrão o sorriso é espontâneo, as lembranças são boas e a despedida é saudosa, mesmo que seja um até breve!
Parabéns ao Major Aita pelo comando e a iniciativa de aproximar os ex-militares, independente de posto ou graduação, à sua casa: A 1ª Companhia de Guardas!
O Major tem se mostrado um amigo de todos, deixando as portas da Cia sempre abertas, sem distinção, a todos os ex-militares.
Conheça esse cara. Um grande ser humano que merece nosso respeito por dar o devido valor às pessoas que tanto fizeram pelo nosso quartel e tratar a todos com imensa consideração.
Ao major Aita e aos seus comandados, oficiais, sargentos, cabos e soldados o meu respeito e agradecimento pelo evento, pela confraternização tão cheia de boas lembranças.
Ao Tenente Lemos, um abraço pois, sempre que me vê, temos conversas rápidas porém  imensamente produtivas sobre a vida e a Cia Gd. Valeu, Tenente!
Por fim, deixo aqui um desejo: Se existe um paraíso e um lugar onde viverei a eternidade, certamente, lá estarei para todo o sempre; ostentando meu braçal e mantendo acessa a chama do amor às tradições da 1ª Companhia de Guardas!
E digo mais, certamente não estarei sozinho pois "A Guarda morre, mas não se rende!"
GUARDA!
BRASIL!

101910112013-dom