Com meu limitado
vocabulário, com mu modo extremamente simples de ser e viver, fiquei aqui, por horas, tentando achar o modo certo de contar o que vi,
vive, passei, lembrei. O que aprendi.
Decido então, sentar
em frente ao computador e deixar que cada lembrança tome seu lugar
nestas frases, neste texto e que maior quantidade possível de
lembranças boas inunde o peito e a alma de cada um que ler o que
escrevo.
Pois bem, lá vai.
Ontem, enquanto
caminhava sozinho pelo pátio da 1ª Companhia de Guardas, fiquei
imaginando o quanto de tradição este novo chão tem e o quanto de
tradição ficou na antiga Cia Gd, na Vieira de Castro, 222.
Depois
de pensar um pouco, uma voz veio “do nada” e me fez ver que não,
a tradição não está em um endereço nem em um pátio. A tradição, na minha
humilde opinião, está na alma de quem já marchou usando esta
farda, ostentando um braçal e traçou o alamar para prender na lapela e colocá-lo no
braço.
A tradição da 1ª Companhia de Guardas está na união, nas
pessoas que passaram, que estão passando e ainda passarão neste
quartel.
Não importa de apenas
de onde veio a 1ª Companhia de Guardas, nem mesmo importa apenas os
nomes que teve, não importa o “apenas”, o que vale de verdade é
o todo, o contexto, o conjunto, a união pois a Companhia é feita de pessoas.
Isto, no meu ponto de
vista, difere a 1ª Companhia de Guardas. A união!
É isso que nos fez
tornarmos homens e deixarmos de ser meninos, guris.
No quartel aprendemos
a passar dificuldades, dividimos o pouco que temos com o colega ao
lado, com os irmãos que fazemos pois se a vida não nos deu um
irmão, no Exército nos unimos de tal forma a ponto de amizades
nascerem na dificuldade e se tornarem eternas. A Cia Gd torna-se nossa irmandade.
Se a vida não te deu
um irmão de sangue, pelo suor e sangue, a vida te mostra o quanto
pessoas desconhecidas podem se tornar próximas como um irmão; o quanto se arriscam uns pelos outros, compram brigas,
sorriem, choram, brincam, brigam, defendem uns aos outros de forma tão intensa, sincera e tão inexplicável que não se tenta mostrar a ninguém, não se explica a ninguém.
Servir na Cia do Cachorrão nos faz diferentes de outros quartéis.
Não sou
supersticioso, nem acredito em magia.
Respeito todas as opiniões e
principalmente religiões.
Respeito muito a fé das pessoas, sejam
quais forem. Mas existe uma mística neste quartel que não se pode
negar. Um sentimento tão forte, intenso e puro e ao mesmo tempo automático que não
é um cabo, um soldado, um sargento nem mesmo oficial que ensina, mas
o braçal, o alamar, o dia à dia na caserna que nos molda Infantes
de Guarda e faz com que, um excelentíssimo senhor de 98 anos não
perca um só encontro entre seus antigos comandados e entre aqueles
que, com toda certeza, tornam este homem um jovem soldado novamente.
Uma vez soldado, sempre soldado.
Uma vez Cachorrão, sempre cachorrão.
Não importa pra onde
vá, se é militar de carreira, não importa que nova carreira
tenhas, se for um temporário que hoje se encontra paisano... nada
disso importa porque independente do que faças, caro amigo, o
uniforme muda, a profissão pode mudar, mas o braçal, meu caro, esse
nunca (e eu disse nunca) sairá de ti e sabes por quê? Simplesmente porque quando alguém coloca algo em nossa alma, isso é levado
conosco pela vida toda e assim é o braçal, o sentimento de estar um
Cachorrão é eterno.
Tenho pra mim que
“sentimentos” não se explicam, não se escrevem, apenas
sentimos. São nobres demais para que um simples mortal como eu possa
definí-los, sejam quais forem.
Tente definir,
escrever o que é “amor”? O que é “paixão”... podes tentar e até se sair bem mas o sentimento perde a graça. É como
escrever à amada tentando explicar como é o amor e perder tempo, podendo demonstrá-lo ao invés de escrever o que não pode ser descrito.
Não se explica um
amor de verdade, aquele que se olha nos olhos e não é preciso dizer
nada, apenas amamos e sentimos o corpo ferver.
É tão sincero, puro, forte e incondicional que é inexplicável.
Assim é o amor à 1ª
Companhia de Guardas.
Antes, na época de
seleção, nos primeiros contatos, o sentimento era de apreensão.
O que viria pela frente?
Queria logo ser soldado e ver como era, o que fazia, queria atirar de fuzil,
andar fardado, queria tudo ao mesmo tempo mas vi que seria necessário
conquistar tudo que quisesse e nada viria fácil, pois nada seria
esquecido. As lições ensinadas na caserna seriam importantíssimas
a ponto de se tornarem eternas.
E rever as pessoas que conquistaram isso comigo, não tem preço.
Algumas conquistas que
tive foram premiadas com a presença de minha família e divididas
com eles. Outras eu aprendi sozinho, nas madrugadas de serviço e campo, ou
com uma esquadra no frio, chuva, embarrados, com fome e sede mas
dividindo o pouquíssimo que tínhamos e arranjando o que não
tínhamos.
Lembrando isso, vários colegas e situações vem à mente.
As lições que se
aprendem no quartel são tão intensas que a união é inevitável! A
camaradagem, a amizade que se formam nas dificuldades são testadas de forma intensa através dos tempos, dos dias, noites, madrugadas,
escoltas, patrulhas, serviços, enfim, a todo instante nossa amizade
é posta à prova e costumamos dizer no Exército que “é no fogo
bem mais quente que se forja o aço bom” portanto, não existe aço
mais forte que a união dos Cachorrões pois passamos por poucas e boas juntos.
Uns de nós podem ser muito
importantes em suas novas carreiras e terem mais sucesso que outros,
mais grana e outros menos sucesso, menos grana mas... sinceramente, o
que nos diferencia dos outros e ao mesmo tempo nos torna tão parecidos e insuperáveis, é o simples fato de nos
sentirmos um. De sermos um Cachorrão.
Somos aquele cachorrão
pintado nas paredes do quartel.
Somos mais porque cada um do seu
modo, com suas qualidades e defeitos, é o mesmo Cachorrão que
habita o peito, mente e alma uns dos outros.
Ontem tive a oportunidade de rever colegas, de conhecer seus filhos (abraço ao Francisco e ao Soares; baita colegas, baita seres humanos e excelentes pais), de ver como estão bem de saúde, felizes e ver no rosto de cada um o mesmo sorriso e sentimento que tive ao revê-los.
Eternos Cachorrões... somos uma família.
Somos Eternos
Cachorrões não porque nunca morremos, mas porque não importa pra
onde nos mandem, o Espírito da Infantaria de Guarda, o Espírito
dos Eternos Cachorrões nunca morrerá pois sempre haverá um
Cachorrão pra ostentar um braçal que, mesmo não estando em seu
braço, estará, sem sombra de dúvidas, na alma!
Oficiais, sargentos, soldados, todos juntos, confraternizando na presença dos atuais militares que honram nossa história, nosso braçal.
Cachorrão não é
apenas aquele militar que está, por tradição, impecavelmente
fardado mas sim aquele que nunca tira o braçal da alma independente
do que faça, da idade que tenha, de onde vá.
Ontem, como milico de alma que ainda sou muitas vezes, estava curtindo a confraternização mas pensando no quanto cada militar que lá estava queria ir pra casa descansar, pois cumpriram muito bem a missão que foram designados. Padrão CG! Alto padrão pois, mesmo na simplicidade das ações, característica inerente ao soldado, foram perfeitos em suas missões e sempre atenciosos, prestativos, trataram todos com a mesma importância e respeito que, um dia, quando visitarem a 1ª Cia Gd como ex-militares, também serão tratados.
Parabéns aos militares que estavam nessa missão de nos recepcionar! Parabéns também aos que estavam de serviço e possibilitaram que outros pudessem nos receber.
A cada nova visita que faço à Companhia, mais orgulho sinto de ter servido nesse quartel e mais orgulho sinto dos militares que lá estão.
Certamente receberão os elogios devidos em formatura pois todo o elogio -quando é merecido- ecoa eternamente em nossas mentes, nos inspirando a buscar mais elogios merecidos.
Parabéns a todos os Cachorrões!
Cachorrões que estufam o peito pra responder que servem ou serviram na 1ª Companhia de
Guardas e observam o respeito de quem ouve isso.
Somos mais porque
somos Eternos.
Não somos melhores,
nem piores que outros militares ou ex-militares, somos mais porque
sempre que um Cachorrão vê outro Cachorrão o sorriso é
espontâneo, as lembranças são boas e a despedida é saudosa, mesmo
que seja um até breve!
Parabéns ao Major Aita pelo comando e a iniciativa de aproximar os ex-militares, independente de posto ou graduação, à sua casa: A 1ª Companhia de Guardas!
O Major tem se mostrado um amigo de todos, deixando as portas da Cia sempre abertas, sem distinção, a todos os ex-militares.
Conheça esse cara. Um grande ser humano que merece nosso respeito por dar o devido valor às pessoas que tanto fizeram pelo nosso quartel e tratar a todos com imensa consideração.
Ao major Aita e aos seus comandados, oficiais, sargentos, cabos e soldados o meu respeito e agradecimento pelo evento, pela confraternização tão cheia de boas lembranças.
Ao Tenente Lemos, um abraço pois, sempre que me vê, temos conversas rápidas porém imensamente produtivas sobre a vida e a Cia Gd. Valeu, Tenente!
Por fim, deixo aqui um desejo: Se existe um paraíso
e um lugar onde viverei a eternidade, certamente, lá estarei para
todo o sempre; ostentando meu braçal e mantendo acessa a chama do amor às tradições da 1ª Companhia de Guardas!
E digo mais, certamente não estarei sozinho pois "A Guarda morre, mas não se rende!"
GUARDA!
BRASIL!
GUARDA!
BRASIL!
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